Entrevista à escritora
Margarida Pogarell
Pela segunda vez, na nossa
escola, tivemos o prazer de privar com a escritora Margarida Pogarell, que nos
deleitou com mais algumas das suas aventuras, desta feita, através do seu novo
conto, O Sapinho Verde.
Carolina- Tem ido a várias escolas conversar com os alunos sobre os
seus livros. O que tem sentido?
Escritora-
Aprendi imenso com os alunos. Hoje, de manhã, eu já contei, que quando
cheguei, fiquei com o coração cheio de ternura, de carinho… é muito bonito
falar convosco. Também é engraçado saber e verificar o que pensam sobre aquilo
que eu escrevo e que fazem imensas perguntas às quais nunca pensei que poderiam
existir. E isso é fascinante.
Nuno- O que a levou a escrever esta história? Qual foi a sua fonte
de inspiração?
Escritora-
A minha fonte de inspiração é qualquer coisa que me “toca”, pode ser uma
notícia na televisão, palavras, enfim… Quando isso acontece, sei que passados
uns dias começo a escrever. O que me levou a escrever esta história foi uma entrevista
que ouvi no caminho de casa com um senhor que é jornalista desportivo e que é
muito conhecido na Alemanha. Na entrevista, ele falava da sua carreira, das
coisas que ele tinha feito. No fim, a senhora que o entrevistava perguntou-lhe:
“Eu sei que quando era pequenino tinha algo que adorava e que não conseguia
deixar”; ele ficou emocionado e respondeu que tinha tido um sapo de pano cheio
de remendos. Fiquei muito emocionada com aquilo e foi daí que surgiu a
história.
Miguel- Das
personagens das suas histórias, com qual se identifica mais?
Escritora-
Identifico-me mais com o Valdemar porque ele é um bichinho cheio de emoções
e cheio de ideias.
Rafael- Como escolhe o nome das suas personagens? O nome Quininho
foi baseado em alguém seu conhecido?
Escritora-
O nome Quininho é de um menino de dois anos, portanto, é real. As minhas
personagens recebem nomes que me tocam, e de brincadeiras minhas com as
personagens.
Mikelly- Teve algum brinquedo na sua infância que ainda o conserve?
Escritora-
Sim, tive uma boneca que ainda hoje tenho. Quando as pessoas entram no meu
quarto, lá está ela sentada numa cadeira.
Inês- O peluche de que fala existiu ou existe mesmo?
Escritora-
O peluche de que eu falo, sim, existiu mesmo.
Diogo- Porque é que as personagens dos seus contos são sempre
animais?
Escritora-
As personagens dos meus contos não são sempre animais, também há humanos
mas às vezes calha serem animais.
Tomás- Também tem medo de sapos como tinha de gafanhotos?
Escritora-
Sim, tinha mas hoje em dia esse medo já está ultrapassado.
Beatriz Amiguinho- Porque é que no Valdemar e no Sapinho verde as
personagens principais morrem?
Escritora-
Bem, é um facto que elas fisicamente desaparecem e a isso nós chamamos morte.
Contudo, o desaparecimento físico das minhas personagens é um desaparecimento
que é cheio de carinho, de ternura e que deixa o coração cheio. Quer o
Valdemar, que deixa a menina com a sensação de que teve um amigo fantástico,
como o nosso amigo Tom deixou imagens muito boas e recordações muito boas, de muito
carinho, de um menino que teve. Tanto que ele depois fala aos filhos sobre o
sapinho. Efetivamente, eles desaparecem fisicamente mas continuam vivos duma
forma muito forte no coração das pessoas e a influenciar de uma forma positiva
a vida das pessoas com quem estiveram. Além do mais, não sei se repararam, eu
fi-lo desaparecer fisicamente mas o livro tem dois fins. No primeiro fim, vocês
poderiam ter terminado aí e terem imaginado que ele continuaria a fazer
milhares de coisas e vocês próprios inventariam um fim diferente. Eu,
efetivamente, deixo desaparecer as minhas personagens, não todas, pois vocês
ainda não leram as histórias de Lua e a Lua não desaparece. A minha menina não
desaparece, ela continua a viver aventuras muito engraçadas, no fundo do mar,
com as sereias e com as princesas indianas. Efetivamente estas personagens
desaparecem fisicamente mas ficam dentro do coração.
Bruno Moreno- É a primeira vez que lemos um conto em que o seu
final aparece invertido. Porque o fez?
Escritora-
Vocês leram o fim, não foi, se não, não tinham colocado essa pergunta, e
viram que ele se transforma num campo de arroz, num arrozal. Ele ao
transformar-se num arrozal, deixa muitas coisas para trás: ele deixa alimento
para os amigos, ele deixa esconderijo para os amigos, ele deixa um espaço verde
e bonito para os amigos se sentirem bem e ele sabe que os amigos estão bem. Ele
desapareceu fisicamente, mas tudo o que ele deixou para trás na vida foi tudo
muito positivo e os seus amigos irão sempre pensar nele.
Ana- Já tem em mente outro livro?
Escritora-
Sim, eu tenho em mente outro livro. Neste livro a personagem não vai
desaparecer fisicamente. Prometo. Vai ter o nome de Acácia e a Acácia, para
além de ser uma árvore e com flores lindíssimas, é o nome também de uma menina
que eu conheço. É uma menina muito bonita. Conheço-a mas só de a ver uma única
vez. Eu iniciei o livro em África, estava de férias… a história vai passar-se
numa escola, o Valdemar vai entrar de novo, acho que vocês vão perceber porquê
e quando eu digo que as personagens desaparecem fisicamente e não de outra
forma. (…) E para a escola da Ana Catarina vem uma menina e essa menina é a
Acácia. Esta menina tem um pequeno problema, é deficiente. (…) O livro vai-lhe
ser dedicado e penso que o conseguirei publicar para o ano.
Sílvia- Será que há versões dos seus dois contos em alemão?
Escritora-
Em alemão existe penas O Valdemar.
O Sapinho Verde ainda não existe em
versão alemã.
Daniel- Alguma vez pensou em escrever uma história com a ajuda de
crianças?
Escritora-
Quer acreditem ou não, já pensei nisso. Aliás, os meus alunos já me fizeram essa proposta, mas até agora ainda
não conseguimos escrever a história a várias mãos. Tenho uma turma mais ligada
às leituras, às histórias, às aventuras e que já me fez essa proposta.
Nádia- Qual a sensação de ser conhecida por muitas pessoas?
Escritora-
Essa sensação é que é assim mais estranha. Não estamos habituados a que nos
reconheçam na rua e a sensação de poder entrar num espaço e haver alguém que
nos conhece e que naquele momento não reconhecemos imediatamente, porque nós
não fixamos todas as pessoas, não é por mal, é que é um pouco estranha. Mas
como normalmente eu sou muito sossegadinha, eu acho que quase ninguém dá por
mim!
Joana- Foi fácil adaptar-se às tradições e à língua alemã?
Escritora-
Não é fácil. Não é fácil emigrar, não é fácil viver num país estrangeiro e
não é fácil viver num país estrangeiro, pensando construir lá uma vida. Não é
fácil pela língua, como imaginam, o alemão não é fácil, mas também porque as
mentalidades são bastante diferentes. Contudo, é muito bonito quando
conseguimos abrir a nossa mente, o nosso coração para que essas novas coisas
influenciem a nossa vida. É muito bom porque nos dá uma visão muito diferente
das coisas. Nós estarmos abertos a novas experiências e a novas influências
aumenta a visão sobre as coisas e a forma como as vemos, como as analisamos
porque há sempre vários olhares sobre as coisas. Devemos estar sempre abertos a
novos olhares.
João Fonseca- É bom viver na Alemanha? Por que motivo foi para lá?
Escritora-
Eu gosto de viver na Alemanha mas tenho a vantagem de poder vir várias vezes a
Portugal, uma vez que sou professora e nas minhas férias, sempre que estou
livre, estou aqui, nesta zona, a passar férias, a ver o mar, a ver os amigos, e
a cozinha portuguesa e tudo isso. Eu gosto de viver na Alemanha e é engraçado
que sempre que chego cá a baixo, sou um pouco mais portuguesa e quando chego à
Alemanha, sou um pouco mais alemã, contudo, eu não sou nem portuguesa nem alemã.
Eu ando assim entre os mundos, assim um pouco como o Valdemar. A razão por que
fui para a Alemanha, foi uma das razões mais bonitas que podemos ter para
emigrar. Há muitas razões como vocês sabem: a guerra, a fome, o não haver
trabalho… Eu fui uma menina feliz, tive das melhores razões para emigrar:
apaixonei-me por um príncipe alemão, para mim era um príncipe. Conheci o meu
marido, casámos e pari para a Alemanha.
João Duarte- Não pensa regressar a Portugal?
Escritora-
Definitivamente, definitivamente vai ser difícil. Como já afirmei, não sou
nem portuguesa nem alemã, sou uma mistura. Portanto, eu vivo muito bem nos dois
mundos e se me decidir por um mundo, vou ficar muito triste, se me decidir pelo
outro, vou ficar triste. Eu tenho amigos nos dois espaços. Daí, eu creio que vá
manter este ritmo de Alemanha- Portugal, Portugal- Alemanha. E de vez em
quando, África.
(transcrição da entrevista: Ana Nunes, 9ºB, e professora
Lígia Pereira)